Presentes de Natal: Como contrariar o espírito consumista?
Vivemos a época natalícia com tudo o que isso acrescenta: iluminações, montras apelativas e um corrupio de gente de um lado para o outro a comprar os presentes de Natal. Por vezes, fazem-no sem esperar pelos pedidos dos mais pequenos, que, esvaziados de ilusões natalícias, já sabem o que vão receber antes de abrir os embrulhos.
A volúpia das famílias, que competem por oferecer mais e melhor do que no ano anterior, contraria os inúmeros códigos de conduta, valores e realidades que tentamos incutir aos mais novos. Com isto, a sensatez das crianças acaba por ficar afetada.
O momento de abrir a enorme quantidade de presentes de Natal esfuma-se num espaço de 10 a 20 minutos. E o entusiasmo acaba por se transformar num vazio que não se explica.
E que tal ensinarmos às nossas crianças que as prendas devem ser valorizadas e apreciadas, que é importante sentirem-se gratas pelo que recebem, ao invés de compactuarem com a ideia consumista que gira em torno do Natal?
Pela sua imaturidade e inocência, os miúdos acham que estas dádivas são normais e que o hábito se manterá para sempre. Mas tudo pode mudar na vida. Se um dia essa “normalidade excessiva” acabar ou diminuir, é claro que a criança fará uma birra. Não podemos esperar outra coisa, uma vez que não terá as competências para gerir emoções e compreender as razões da inexistência de prendas de Natal.
O excesso de presentes e o consumismo da época natalícia
Não tanto pelo que lhes é oferecido, mas pela quantidade a que os adultos as habituaram, é normal as crianças “ameaçarem” os pais com comportamentos abusivos. A cultura do consumismo está-lhes impressa no subconsciente e isso gera-lhes prazer.
A gestão da dor pode passar por ensinar a gratidão e a felicidade no essencial e por explicar que nem tudo que a publicidade mostra poderá pertencer-lhes. Os mais novos devem valorizar o esforço que os pais e as mães fazem para que tenham o mais importante: AMOR.
Os miúdos não devem crescer uma bolha à volta da qual o mundo gira. Ainda que ame os seus filhos, certamente não quer que “mandem em si”. Por isso, antes de encher a árvore de presentes de Natal, pense nisto!
Não será de ponderar a reformulação do número de prendas, tendo em conta que todos os familiares as dão nesta altura? Não faria sentido cingir-se só a uma ou duas que a criança realmente queira? Pode até deixar alguns presentes para dar ao seu filho no decorrer do ano, quando as boas atitudes o justificarem.
Dar a escolher à criança o que realmente quer e valoriza reduzirá consideravelmente a sua ansiedade. Consoante a idade, pode inclusive estabelecer um orçamento. Isto vai permitir que adquira aprendizagens que lhe serão úteis na vida adulta. Os limites e a noção do valor das coisas, da gestão de finanças e dos comportamentos ausentes de futilidades trar-lhe-á abundância de bondade e o dom da partilha.
Como estimular o espírito de partilha nas suas crianças?
Incentive o seu filho a escolher um artigo que já não usa e oferecê-lo a uma criança carenciada. Pode até desafiá-lo a comprar um presente que adora e doá-lo a uma instituição para fazer uma criança feliz. Assim, estará a estimular todo o potencial de altruísmo e bondade inato num ser humano.
Diria que esta é a melhor mensagem de Natal, a maior herança, que um pai pode deixar a um filho: o espírito de solidariedade e a sensibilidade pelo sofrimento e carência do próximo. É como se injetássemos felicidade e realização plena num ser em processo de desenvolvimento, o que o eleva para um patamar superior.
O contágio é garantido. A epidemia do amor, da bondade e da solidariedade constituiriam a praga do século XXI… e não seria somente na quadra natalícia!
A necessidade do outro será a sua necessidade: ajudar, partilhar e ser cada dia mais feliz. Participar em atividades de solidariedade e conhecer outras realidades fará das crianças pessoas socialmente responsáveis no mundo, num país e numa sociedade naturalmente saudáveis.
Dê ao seu filho o melhor presente de Natal: atenção!
O melhor presente de Natal que pode dar ao seu filho é a sua presença, a sua atenção, a sua orientação e o seu carinho. Um momento de partilha – um jogo didático, um puzzle, uma peça de teatro ou um concerto infantil – pode tornar-se uma magnífica prenda. Brinque com os seus filhos e participe nas suas recreações. Quem não gosta de relembrar as coisas boas da infância?
Um dia, os seus filhos contarão aos seus netos que os pais brincavam com eles desde pequenos. Faziam acampamentos no quintal, brincavam às escondidas, faziam corridas na praia e liam histórias antes de dormir. A herança permanecerá de pais para filhos e deixará marcas muito profundas. Marcas de uma infância saudável e feliz!
Aproveite todos os momentos para incentivar os seus filhos a criar lembranças originais que vão ao encontro dos valores importantes para a formação da sua personalidade. São estes os presentes que perduram no tempo. Feliz Natal!
Eva Martins
Consultora IHTP Academia de Educação
Parabéns Eva pelo teu artigo ??