Tempo: Qual o Seu Peso e Valor no Nosso Dia a Dia?
Tempo é algo muito relativo, dependendo da pessoa, do seu contexto e do seu nível de abstração. Contudo, é algo muito exato, por ser quantitativo. Nem sempre refletimos sobre o que fazemos com o nosso tempo, como o gerimos ou desperdiçamos, dia a dia. Muitas vezes, nem sabemos ao certo como as horas passaram. Creio ser de grande utilidade essa reflexão: que valor atribuímos ao nosso tempo?
Pontualidade, uma prática de quem valoriza o seu tempo
Há alguns dias participei com um colega num evento da área de recursos humanos. À hora aprazada para o início, 9h, a sala estava meio cheia. Dez minutos depois, a anfitriã do evento dirige-se aos presentes a pedir desculpas pelo atraso no início e elencou três argumentos:
1. “Vamos ver se chegam mais algumas pessoas pois temos o evento esgotado ao nível das inscrições. Sabem como é, a esta hora e neste local, com o trânsito, é complicado…” – E continuou…
2. “Também a 1ª pessoa a intervir enviou agora uma mensagem a dizer que deve estar a chegar, vem de fora, sabem como é…”
3. E termina lapidarmente com um “também não há evento de RH que comece a horas, já sabemos, não é?…”
Se uma pessoa que eu conheço estivesse presente e a olhar para mim, era bem capaz de me dizer “Caiu-te o queixo é? Fecha a boca.”.
Mais tarde, noutra intervenção, o sponsor do evento, a dado momento, faz uma reflexão sobre o investimento em formação vs a ausência do posto de trabalho. Olhando para a sala, agora sim, cheia, diz “Devem estar aqui nesta sala mais de 10.000€/hora.” Vamos dar esta estimativa como boa.
O evento, que começou com mais de meia hora de atraso, teve um custo efectivo de mão-de-obra especializada, ou melhor, um desperdício de tempo no valor de 5.000€ (sim, os que não estavam a horas também contam). Este desperdício não foi aproveitado por ninguém, ainda que possamos sempre pensar em quem, de smartphone na mão, rentabilizou o momento para ler uns emails ou umas notícias, enviar novas mensagens, quiçá fazer uma ronda pelo Twitter ou Facebook.
Ser pontual é uma prática que pode ser melhorada
Com dois exemplos pessoais, gostaria de demonstrar como a pontualidade é algo que pode ser melhorado e trabalhado por qualquer pessoa, desde que haja vontade.
Recordo-me de quando estive a trabalhar em Great Witchingham, Norwich, UK, na loading bay de uma fábrica, onde um dos autocarros de transporte dos trabalhadores da empresa passava à minha porta às 6h30m e chegávamos à fábrica pelas 07h45m. Estava lá a viver e trabalhar há uma semana, quando certo dia cheguei ao ponto de paragem com 2 minutos de atraso. O autocarro já tinha ido. Aprendi rapidamente. É verdade, tive de ir de táxi nesse dia e a “jorna” foi toda gasta nisso, pois faltar não era uma opção.
Numa outra fase da vida, trabalhei num Grupo cuja Comissão Executiva reunia semanalmente, no mesmo dia e sempre à mesma hora. Um dia, já cansado de estar à espera, há horas e nada se passar, devo ter “aborrecido” o CEO ao ponto deste me dizer – porque eu era o Diretor de RH do Grupo – “Na próxima reunião, traga uma folha de papel com o vencimento/hora de todas as pessoas que participam nesta reunião (ainda não era o custo) e vamos começar a contabilizar os atrasos, com uma afetação no prémio de gestão.”. Resultado? Não preciso de o referir.
A questão é essa: é preciso efetivamente “doer” para mudarmos a nossa relação com o tempo e como o usamos. O ser humano não nasceu para viver na dor, ad contrarium e por isso muda. Pode ser pontual a mudança? Pode. Com a recorrência, pode mudar. Quantas vezes tem de falhar para mudar o comportamento? Se com consequências, poucas. Se sem consequências, pode ser que um dia mude. Pode ser.
Quanto vale o tempo para cada um de nós?
A boa gestão do tempo pode permitir encontrar tempo que não pensávamos ter. Já num artigo anterior, Produtividade: 2 dicas para aumentar o rendimento e eficácia!, abordei esta questão.
Contudo, a pontualidade vai além disto. Sou adepto de uma frase que já li e ouvi mais do que uma vez, cujo autor desconheço: “5 Minutos antes já é tarde”. Trata-se pois de um valor, uma forma de estar na vida. Se é fácil? Claro que sim, ao fim de algum tempo após começarmos a praticar.
Como fazer? É mesmo necessário “desperdiçar” tempo estando mais cedo? Sim, e não é um desperdício, se estivermos preparados para o usar bem. Podemos usar esse tempo de proteção para rever a agenda, a apresentação, a proposta, os dados que coligimos para a reunião, ir ao wc, apontar umas notas, enfim, no limite ler um livro. Se a espera acontece numa viatura, coloque a sua Car University em CD ou pen a funcionar e ouça os conteúdos que tem alinhados.
E se chegar atrasado? Bom, então vamos aprender com a correcção da situação usando a abordagem da árvore de causas. Será que fiz tudo o que podia, devia e queria para chegar a horas? Sinto-me confortável? Não? Então porquê? Porquê? Porquê? Porquê? Porquê?
Sobre o tempo diz-se com propriedade que é coisa que nos foi igualmente distribuída a todos enquanto seres humanos, pobres e ricos, doentes e saudáveis, crianças e adultos, homens e mulheres. Diferente é o valor que lhe atribuímos. Diferente mesmo, é o Valor que dele retiramos.
António Balau
HR & Coaching Academy Manager IHTP
Num mundo de correrias, somos sem dúvida a pausa no tempo!
Boa noite Adriano.
Grato por seguir o nosso blog.
A sua frase, acredito um déjà vu, é uma reflexão que é pertinente e se bem usada por cada um de nós permite-nos fruir com prazer o tempo de que dispomos. Obrigado.
Excelente artigo António Balau!
Partilho totalmente da sua perspetiva de valor do tempo e do respeito pelo tempo de cada um chegando sempre antes da hora acordada.
Muito Bom o teu artigo António Balau…Forte abraço
Obrigado pelo comentário Álvaro.
Vamos continuar a praticar.