Trabalhar a Partir de Casa: Como Lidar Com a Nova Realidade!
Trabalhar a partir de casa é, hoje em dia, encarado com normalidade pelas empresas e pelos funcionários. O regime de teletrabalho é bastante recente em Portugal, mas está a enraizar-se na sociedade moderna.
Há 10 anos, seria impossível referi-lo como um regime normal na relação trabalhador–entidade empregadora. Esta última confiaria o suficiente no seu recente colaborador e aceitaria a ausência do posto de trabalho para trabalhar a partir de casa? Como teria a garantia de que o trabalho estaria a ser realizado como previsto sem supervisão direta?
O trabalho à distância começou há muito tempo, maioritariamente realizado por colaboradores seniores em áreas muito específicas. Hoje, trabalhar a partir de casa está profusamente disseminado em termos de áreas de trabalho.
Há, porém, aspetos sobre os quais devemos refletir: que organizações confiam nos colaboradores para que estes digam à chefia: “Amanhã não sei a que horas chego, tenho o carro na oficina”? Como consegui-lo sem que respondam “Tens de ter o trabalho pronto às x horas” e acenem dizendo “Quando chegares diz-me, por favor”? Qual a confiabilidade da chefia nos colaboradores a trabalhar a partir de casa? Qual o nível de empowerment que os líderes entregam aos elementos da equipa? Qual o nível de responsabilidade que está entregue aos colaboradores?
Trabalhar a partir de casa: Questões sobre o futuro
A nova realidade que consiste em trabalhar a partir de casa terá a ver com a idade dos trabalhadores? O bom senso na era digital leva-nos a ter cautela num qualquer juízo apressado.
Em 2020, teremos cinco gerações a trabalhar ao mesmo tempo, se é que tal não está já a acontecer. O mix humano nas organizações poderá parecer estranho. Hoje temos empresas onde a juventude grassa e onde patrão e estagiário diferem em 10 anos. Temos CEO’s e COO’s com menos de 30 anos, e não só em startup’s.
Na era digital, os trabalhadores vulneráveis mudarão de tipologia, passando dos grupos tradicionalmente vulneráveis (idosos, mulheres, minorias éticas) para outro tipo de exploração? Tudo em nome do “necessário” domínio de ferramentas que agilizará processos, reforçará produtividades e conduzirá o “coletivo de trabalho” que conhecemos a uma tipologia organizacional mal percebida pelo trabalhador e pela sociedade?
Trabalhar a partir de casa tem vantagens e desvantagens para trabalhadores, empresas e sociedade. Contudo, o trabalho a solo não poderá funcionar como leitmotiv para a promoção, aumento salarial ou defesa de um estatuto profissional, já que não há um termo de comparação para os trabalhadores. Serão estes fatores intencionalmente explorados pelas empresas? Como se organizará a sociedade e os grupos de cidadãos? Como se transformarão os CT’s ou acordos de empresa? Terão de se constituir obrigatoriamente grupos profissionais onde as referências serão porventura escassas?
O caminho para o desconhecido na era digital
Há lobbies que trabalham estas questões há algum tempo, apesar de o digital ser apenas uma ferramenta. Nos trabalhos académicos, poucas pistas são apontadas. Está a ser feita a história desta evolução sem preconizar propriamente saídas viáveis ou consistentes.
O que é que o digital obrigará um trabalhador a ser? Um bom mix de talentos e ainda focado naquilo em que é efetivamente bom? Conseguirá o trabalhador desenvolver a título pessoal uma estratégia de atuação para o mundo digital dos negócios? Não vejo fórmulas que pareçam solução para esta espécie de caixa de pandora de temores e desgraças anunciadas que se vai abrindo a uma velocidade vertiginosa. Até porque ainda são os homens de bom senso que determinam a que velocidade e onde querem viver, especialmente no mundo digital.
António Balau
HR & Coaching Academy Manager IHTP
Obrigado pela partilha António Balau.
Realmente, numa empresa onde trabalhei propus-me a trabalhar em regime de teletrabalho e presencial. Desta forma, poderia trabalhar de forma mais eficiente e eficaz nas minhas tarefas diárias, já que os recurso que necessito podem ser todos digitais, no conforto do local que eu desejasse e alguns dias da semana ou do mês iria até ao escritório da empresa para ter reuniões ou simplesmente para trabalhar presencialmente.
Infelizmente, a proposta foi recusada por ninguém na empresa trabalhar neste regime, exceto em casos extremamente excecionais ou para trabalhar ainda mais do que as horas que já realizavam no escritório.
Tenho pena que em Portugal esta forma de trabalho não seja, ainda, bem aceite e/ou credível.
Grato pelo comentário Ricardo.
Há que perseverar.
O caminho faz-se caminhando.