A dependência tecnológica na infância: Perigos e soluções
A dependência tecnológica na infância é um tema que divide opiniões, mas é inegável que o avanço da tecnologia nos últimos anos é profundamente impactante.
Atualmente, qualquer pessoa tem acesso a informação mundial em tempo real. Os tablets, smartphones, redes sociais, aplicações e a própria internet são ferramentas que, quando usadas com equilíbrio, potenciam o desenvolvimento dos mais novos.
A utilização sensata destes recursos favorece práticas pedagógicas que estimulam a curiosidade das crianças e, consequentemente, ajudam a desenvolver as suas capacidades cognitivas.
Ao descobrir mais sobre o mundo e o seu infinito leque de temas, os miúdos exploram o prazer de aprender. Assim, em vez de atuarem como catalisadores para a dependência tecnológica, os recursos digitais tornam-se aliados na educação.
Contudo, tenha em mente a importância de conciliar a teoria com a prática. É a brincar que as crianças aprendem. Não se esqueça que o nosso cérebro assimila o que aprendemos quando colocamos o conhecimento em prática. Não aprendeu a andar de bicicleta só com a teoria, pois não? Teve certamente de praticar bastante.
Os perigos do mundo virtual para as crianças
Quantas são as crianças que antes de deixar as fraldas, pedalar num triciclo ou atar os cordões dos sapatos já dominam um tablet melhor do que muitos adultos? Acreditamos que, deixando-as estar horas a fio nesses dispositivos, estamos a educá-las. Afinal, estão calmas e concentradas a explorar a tecnologia que parece ter nascido com elas. Mas não, dessa forma não estamos a educá-las.
O uso indiscriminado da tecnologia na infância, sem um contexto definido, prejudica o desenvolvimento físico, mental e social. As crianças têm contacto com estes aparelhos cada vez mais cedo, causando danos difíceis de reparar e que podem conduzir à dependência tecnológica. Por sua vez, a desvalorização dos laços afetivos com familiares e amigos acaba por provocar desestabilização emocional.
Quantas crianças conhece que trocam uma ida ao parque por um jogo com amigos virtuais? Ou que, em vez de irem correr e jogar futebol, preferem um videojogo, sentadas no sofá atrás de uma tela que as inibe física e socialmente.
No Natal ou no aniversário, as bicicletas, as bolas e os patins estão a ser substituídos por um sem-número de aparelhos eletrónicos. Hoje são estes os “brinquedos” preferidos dos mais novos.
O papel dos pais no combate à dependência tecnológica
De facto, pode ser muito difícil explicar a uma criança por que é que o amigo de sete anos já leva o telemóvel para a escola e ela não. Antes de responder, pergunte a si próprio:
- Que futuro quer para o seu filho?
- Levando o telemóvel para a escola, irá ele brincar com os amigos ou desconectar-se do mundo real?
- Quantas horas vai usá-lo em cada dia?
- Será que vai conseguir estar atento nas aulas para garantir um bom desempenho?
É de sublinhar que o uso equilibrado da tecnologia, considerando a idade, o tempo e o conteúdo apropriado, tem incontáveis vantagens. Conviver com o mundo digital e sentir os seus benefícios é importante. Porém, como em qualquer outro tema da educação, as regras são necessárias. Ajudam as crianças a lidar com frustrações e desilusões, a ultrapassar os medos e a controlar os sentimentos.
É neste equilíbrio, explorando os cinco sentidos e gerindo as emoções, que se constroem muitos dos valores que servirão de base para o futuro. Enquanto mãe ou pai, perceba que é vital deixar o seu filho brincar, mexer-se, explorar e dar asas à imaginação. Esta é a melhor prevenção para a dependência tecnológica.
As consequências de negligenciar a dependência tecnológica
Quanto vale o desenvolvimento físico, psicológico e social do seu filho? E o que pode substituir os valores e o equilíbrio emocional?
Infelizmente, há motivos superficiais que podem levá-lo a colocar a criança em contacto com cada vez mais telas, durante cada vez mais horas. Os motivos são vários: os amigos do seu filho têm certo aparelho ou fazem certa coisa. Ou, por vezes, precisa simplesmente de sossego em casa. É compreensível, mas estas não deveriam ser razões suficientemente fortes.
O consumo desadequado e excessivo de conteúdos (na sua maioria, pouco didáticos) conduz inevitavelmente à dependência tecnológica. As crianças que crescem neste contexto podem desenvolver bloqueios no desenvolvimento muscular, obesidade, isolamento social, ansiedade, depressão e agressividade.
Garanta que a tecnologia o ajuda, mas não o domina
O peso que as tecnologias têm no dia-a-dia já está praticamente enraizado no nosso inconsciente. Por isso, é cada vez mais importante que, enquanto pai ou mãe, consiga dar o exemplo ao seu filho. É imperativo ter em mente que a dependência tecnológica também constitui um perigo para si e não só para a criança.
Mostre-lhe que há uma imensidão de coisas para ver e fazer para lá dos ecrãs. Até os aspetos mais simples do quotidiano podem ser lúdicos. Estimule o seu filho a participar nas atividades da família, crie laços e ensine-lhe valores.
Quando as crianças brincam, zelam pelas competências motoras, psicológicas e sociais. Desenvolvem também a criatividade e a imaginação. Viajam para um mundo mágico onde tudo é possível. Dentro desse mundo mágico, até tarefas como preparar o jantar ou pôr a mesa se podem tornar cativantes. Como família, deem asas à imaginação. Os miúdos vão ficar felizes e você também!
Fátima Guerreiro
Consultora IHTP Academia de Educação